3 de abr. de 2006

A que ponto...

O Encontro do BID, o provincianismo e o pequeno Czar


Reza a lenda que a desconfiança do mineiro se deve ao fato de por muito tempo ter degustado as notícias de segunda mão. A Corte sempre esteve ali no litoral. Ainda, segundo a lenda, o jeito de ser sorrateiro do povo das alterosas também se deve a esse, vamos chamar, complexo interiorano.

Está na hora de acrescentar mais algumas observações de fatos recentes que corroboram a lenda. Pelo que se vê em Belo Horizonte por esses dias, dias de Congresso do Banco Interamericano de Desenvolvimento, simplesmente BID, a coisa vai ficar complicada se algum dia a capital mineira sediar um evento de âmbito mundial, neste caso a opção será clara, abrigar temporariamente a população de BH em outra cidade. Chegou-se ao cúmulo de cogitar o fechamento da Avenida Afonso Pena, a principal da cidade, ao trânsito de pedestres. Temia-se um ataque terrorista.

Com o perdão do ?Estado de Minas?, o grande jornal dos mineiros, mas um ataque terrorista em BH não seria primeira página no The New York Times. Isso é substimar a inteligência terrorista.

Em sua mais legítima vontade de apresentar-se como bom anfitrião, o Governador Aécio Neves, fez de tudo para mostrar aos diretores do Banco o estupendo estágio de avanço da civilização mineira, decidiu, as três da tarde leva-los ao Mineirão para ver um jogo de futebol marcado para as nove e quarenta da noite. Até aí tudo bem, a eficiência logística da Polícia Militar de Minas Gerais se fez presente e, quando do início do jogo, anfitrião e convidados estavam dignamente acomodados em uma área vip construída em um par de horas e sob a guarda de um aparato de segurança digno dos que lá estavam presentes.

Fico a indagar meus mineiros botões, será que isso é realmente demonstração de civilização e eficiência ou nossos convidados, regressando a terra natal, não vão comentar que, quando aqui estiveram, foram recepcionados por um pequeno imperador que tinha todas as suas vontades atendidas e cujos súditos estejam dispostos a sacrificar sua rotina cotidiana para bem atender seus convidados.

Sou mineiro de um outro tipo, sou daqueles que, ao dá banquete, está sempre desconfiado se os convidados não vão sair falando da minha generosidade ou da minha falta responsabilidade por servir aos outros na festa aquilo que não gozo no dia-a-dia.