22 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema (Segredos e Mistérios)

Os segredos e sustos

Invariavelmente ele atravessava uma cena no meio dos seus filmes. Essa é uma das melhores coisas sobre os filmes de Alfred Hitchcock. Esperar o momento em que o gordinho careca aparece.
A outra coisa interessante sobre esse inglês excêntrico, para dizer o mínimo, é que sua obra tornou-se sinônimo de um gênero cinematográfico, o suspense. Então, o grande lance é tentar descobrir, no decorrer do filme, como é o desenlace final. Invariavelmente, erra-se.
O próprio Hitchcock é um completo enigma. Ao mesmo tempo que é um dos sujeitos mais biografados da história do cinema, também é um daqueles casos em quase ninguém concorda com nada. Ele é retratado como sendo desde um mero trabalhador da indústria que repetia a mesma fórmula de sucesso sempre, ou até mesmo como sendo um verdadeiro gênio inventivo que criava obras de indiscutível valor estético e cinematográfico.
Seja como for a carreira de Hitchcock iniciou-se ainda no cinema mudo em 1925 com um filme chamado The Pleasure Garden (O Jardim dos Prazeres). Nunca vi, mas com esse título e saído da complicada cabeça do mestre, dá até vontade, apesar dos comentários dizerem que o filme é mediocre e que não foi concluído. Note-se, como dado importante e contraditório, o fato desse criador oriundo do cinema mudo ser um dos diretores que melhor utilizou a música como elemento narrativo na sétima arte. Alfred filmou mudo mais 09 filmes até 1929, quando encerrou essa "fase" com The Manxman (O Ilhéu). Seu primeiro filme sonoro é Blackmail (Chantagem e Confissão) de 1929, ainda filmaria na Inglaterra mais 17 filmes, até 1949, ano de lançamento de Under Capricorn (Sob o Signo de Capricórnio), perfazendo 26 filmes ingleses.
Mesmo antes de ir para os Estados Unidos a, digamos assim, identidade estética de Hitchcock já estava definida, aliás desde o início o crime e o mistério aparecem como elementos principais de seus enredos, sendo seu terceiro filme The Lodger (1926) uma estória envolvendo ninguém menos que Jack, O Estripador.
Em 1949, Hitchcock atirriza em Hollywood já dando as cartas, uma vez que Rebeca (Rebeca, A mulher inesquecível) de 1940 fora agraciado com a estatueta da academia. Produziu freneticamente, justificando, muitas vezes a diferença na qualidade dos filmes. Mesmo assim, fez filmes brilhantes como Strangers on a Train (Pacto Sinistro) em 1951, Dial M for Murder (Disque M Para Matar) e Rear Window (Janela Indiscreta) em 1954, neste último não tivesse feito mais nada, a presença de Grace Kelly já valeria o ingresso. Mas teve mais, To Catch a Thief (Ladrão de Casaca), em 1955, The Trouble with Harry (O Terceiro Tiro), em 1956, The Man Who Knew Too Much (O Homem que Sabia Demais), em 1956, Vertigo (Um Corpo Que Cai), em 1958, North by Northwest (Intriga Internacional), em 1959, Psycho (Psicose), em 1960, The Birds (Os Pássaros), em 1963, Marnie (Marnie, Confissões de uma Ladra), em 1964, isso tudo só para citar os que eu acho melhores. O sujeito trabalhava muito e trabalhou até 1976, rodando um total de 44 filmes e ainda fez uma série de tv.
Não é exagero em dizer que Hitchcock criou o gênero suspense e desenvolveu seus principais elementos narrativos. O suspense à modo Hitchcock tem ação, mas não essa correria que estamos acostumados, pode-se dizer, por exemplo, que as sequências formadas por cortes rápidos, câmera em movimento e bruscos constrates estão presentes da obra de Hitchcock, como em Os Pássaros, mas não é nada como as sequências do mesmo tipo apresentadas em O Homem Aranha de Sam Raimi. Os elementos clássicos estão presentes e muito bem representados no filme do herói aracnídeo, mas em Os Pássaros esses elementos são apresentados em sua pureza, sem que Hitchcock os trate com reverência, deixando-os fluir com naturalidade. Com o susto é mesma coisa, o enquadramento das sequências, com o espectador em posição privilegiada, a música, como elemento pautador da tensão, tudo isso é Hitchcock, mas quando vemos isso sendo empregado em muitos filmes modernos temos a impressão de estar diante de algo gasto, repetitivo, exaurido... em Psicose, por exemplo, o timing dos sustos é perfeito, somos conduzidos por uma escada, de degrau em degrau e, de repente, ele nos solta, mas não como agora, quando a cada passo, pressentimos o tombo. Tanto é assim, que se pode ver o filme seguidas vezes, até uma atrás da outra, sem que os momentos tensos fiquem monótonos. O emprego da música também é magistral em Psicose e Um Corpo que Cai, o mestre dá aulas sobre como trilhar um filme.
O impacto da obra de Hitchcock na produção cinematográfica moderna é muito difícil de mensurar, mas basta dizer que o inglês deixou seguidores confessos como Brian de Palma que com o seu Dressed to kill (Vestida para Matar), de 1980, executa uma homenagem despudorada a Hitchcock.
A verdadeira medida da durabilidade da tradição iniciada por Hitchcock é a enxurrada de filmes de suspense que inunda os cinemas todos anos desde que David Fincher, em 1995, nos apresentou Seven (Os Sete Crimes Capitais) e aqueles que não conhecem a obra de Hitchcock ou torcem o nariz para filmes antigos passaram a se deleitar com a última novidade de Manoj Nelliyattu Shyamalan, ou simplesmente Night, sem dúvida um herdeiro que não relega o mestre, tendo até a mania de aparecer nos filmes.
O indiano maluco compôs, por enquanto, uma exótica e coerente quadrilogia que iniciou-se em The Sixth Sense (O sexto Sentido), de 1999, onde ressucitou Bruce Willis, até então apenas marido da Demi Moore e o Rato de A Gata e o Rato, lembra? Além desse empurrão na carreira do Rato, o filme é uma aula de cinema, onde o diretor mostra como a manipulação dos elementos da narrativa cinematográfica pode levar o espectador à diferentes experiências e conclusões, sem dúvida um tributo a Hitchcock. Depois, foi a vez de Willis agradecer fazendo Unbreakable (Corpo Fechado) em 2000, nesse o senhor da Noite nos brinda com uma gostosa e singela dedicatória ao mundo dos quadrinhos de superheróis, pena que o título em português afugente alguns espectadores, pois ficou parecendo coisa de macumba, mas os elementos do suspense e dos superheróis estão todos lá. Sobre esse ponto, não tenho dúvida em dizer que, mesmo com a avalanche de filmes baseados em quadrinhos que são lançados atualmente, Corpo Fechado ainda é o melhor, não sei como ninguém ainda não pensou em adapta-lo para a banda desenhada. Mas Night não parou e, em 2002 trouxe Signs (Sinais), uma gostosa divagação sobre extra-terrestres e sinais deixados nas plantações do mundo inteiro. Em 2004, foi a vez de The Village (A Vila), mais uma boa dose de suspense e o manifesto de Night em repúdio a civilização urbano-industrial, que não produz laços verdadeiramente comunitários entre as pessoas. Antes dessa quadrilogia, Night fez mais dois filmes pouco conhecidos do público brasileiro, que são Praying with anger (sem título em português), de 1992 e, Wide Awake (Olhos Abertos), de 1998.
Não pensem que Night é apenas um plagiador de Hitchcock. Não, os personagens do cara tem uma força interior, uma complexidade que é minuciosamente dissecada na tela e entregue ao expectador, nos fazendo cúmplices da trama. Essa é a grande marca de Night.
Agora, é só passar na locadora e pegar os filmes de Night e Hit.

20 de set. de 2005

Polis (Imagens e Palavras)

Imagens e Palavras


Àqueles que ainda acreditam em direita e esquerda, em mocinhos e bandidos, em exploradores e explorados e em tudo mais que maniqueísta e pobre:
O MURO DE BERLIM CAIU!
Há aqueles que também acham que o marxismo acabou. Acabou?
Viva o Marxismo!
Benvindos ao século XXI.

17 de set. de 2005

A televisão me deixou burro de mais (Colorado)

Móvel de lindo estilo moderno de madeira de lei, vocês não imaginam como eu detestava essas palavras. Carregar este lindo móvel de madeira de lei exigia sacríficios indescritíveis. A única coisa que se aproxima do sentimento de desespero causado pela remoção deste lindo móvel de madeira de lei, são os bancos de legítimo couro da Viação Cometa que nos acompanhavam por viagens de seis horas (de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro e de volta em dias de verão escaldante num ônibus sem ar-condicionado). Mas, esse maravilhoso móvel de madeira de lei que poderia vir nas cores marfim, embuia ou caviuna e era uma das principais características das 95% nacionais tvs Colorado. O nosso, por exemplo, era em embuia.
Aquilo sim é que era televisão. Tinha o exclusivo vidro Triplex e máscara de plástico Ray-Ban (algumas pessoas mais abastadas colocavam na frente desse moderno monitor um anteparo de plástico colorido, certamente o início da invasão dos produtos made in paraguay, que criava a verdadeira sensação da tv colorida) possibilitando visão reconfortante e melhor contraste, com som frontal emitido por alto falante especial de alta qualidade, balanceado acusticamente e, é claro, o maravilhoso controle automático de brilho, comandado por célula fotoelétrica que regula automáticamente o brilho sempre que é alterada a iluminação do ambiente.
Qual o plasma moderno que se compara a isso?
Tudo isso era acompanhado por um seletor de canais de alto rendimento equipado com a nova válvula frame grid que garante excelente recepção em zonas distantes ou de sinal fraco. É claro que quando esse maravilhoso engenho estragou, eu tive que improvisar um alicate para mudar de canais (ainda bem que só tinhamos cinco canais para escolher) e como a ferramenta não contava com o moderno sistema de isolamento elétrico, também conhecido como capa de borracha, só era possível trocar de canais com a tv desligada, com ela ligada o corriqueiro ato de zapear tornava-se um esporte radical. Entretanto, isso não foi de todo ruim, pois me deu controle total sobre o que minha família assistia. O único problema é que, de madrugada, enquanto eu via o programa do Goulart de Andrade, que sempre passava strip tease das gordas garotas de programa da boca do lixo paulistana. Eventualmente, eu precisava mudar de canal rapidamente e o sistema alicate nem sempre era rápido o suficiente, sem falar que esse nunca foi um sistema silencioso, mesmo quando novo, de modo que essas aventuras noturnas só foram possíveis porque contavam com o sono pensado dos meus familiares.
Foi nesse moderno e maravilhoso tv, comprado de segunda mão e preto e branco que eu gastei muito do tempo da minha infância em maravilhosos momentos inesquecíveis como com o Spectreman que eu já contei.

15 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema Especial (Indo onde nenhum homem jamais esteve)

A industria cinematográfica americana é um celeiro. Há constante renovação, o que não significa que não haja o reconhecimento também constante por aqueles que ajudaram a construir a indústria e que hoje fazem parte da história dela. Isso certamente dimenciona a comoção causada pela perda de Robert Wise.
O que é digno de Robert Wise? Estou navegando na rede, entrei para postar uns e-mails e me deparo com a notícia da morte de Robert Wise, invariavelmente acompanhada de seu complemento mais repetitivo, diretor de A Noviça Rebelde. O que, apesar de ser muito, não é tudo.
Tenho que confessar que não era muito chegado a musicais e que não gostei da primeira vez que vi A Noviça Rebelde. Chamava esses filmes de filme de cantoria e não entedia porque era necessário acrescentar a música à narrativa. Wise foi uma das pessoas que contribui de forma decisiva para mudar minha mentalidade. Vendo os filmes de Wise aprendi a reconher a música como elemento dramático.
Mas não foi só a música que foi transformadas pelas mãos de Wise. Quando eu descobri que ele fora o diretor de Jornada nas Estrelas - O Filme, fiquei pasmo, atônito, nessa época ainda não me preocupava em ler os créditos dos filmes, ia ao cinema pela diversão, não que ler os créditos não é divertido, mas naquela época, os fins dos anos 70 não era. Então, também foi Wise, com sua versatilidade, que tornou os crédidos importantes.
West Side History ou Amor Sublime Amor, pôxa parece arrogância barata, mas eu nunca lembro o título deste filme em português. Lembrei agora porque está escrito em tudo quanto é site, mas daqui a alguns dias só lembrarei de West Side History que é a versão Wise para Romeu e Julieta na New York dos anos 50. Preciso lembra-los que também não gostava de Shakespeare?
O Dia Em Que a Terra Parou. Esse título não foi tirado da música do Raul não. Foi o contrário, uma vez que o título em inglês é The Day The Earth Stood Still. Simplesmente, clássico. Esse eu assisti depois que já gostava de ficção científica.
Robert Wise era um artista, mas não do tipo excêntrico, do tipo performático, não. Wise dominava os elementos de sua arte e os mesclava com rara maestria. A música, a fotografia, a montagem (ou edição, como dizem os modernos), o roteiro, enfim tudo era medido e pesado, harmonizado em suas proporções muito de coisas díspares. Como na centa em que ele dá uma aula de suspense através de elementos infantis e ingênuos, como aquela menina que olha estarrecida os acontecimentos do parque em O Dia Em Que a Terra Parou. Há um pânico, terror mesmo e a espinha do espectador é um carrocel de emoções, porém Wise insiste em manter nos olhos inocentes da garotinha.
Demolidor de mitos e consolidador de dinastias, Wise recuperou com A Noviça Rebelde, a Fox Film da catástrofe chamada Cleópatra e reacendeu a chama do mais fértil da tv americana com o seu Star Trek - The Movie. Foi o cuidado e o carinho de Wise como os detalhes mínimos que fizeram de Julie Andrews e sua simplicidade algo mais que suntuosidade e glamour de Liz Talor e ele colocou também todos os elementos clássicos em sua Enterprise: o capitão impetuoso, o frio Spoc, o encrenqueiro Dr. McCoy, todos lá abrindo caminhos para novas jornadas...
Agora Wise ruma para onde nenhum homem jamais esteve.
Vá Wise, sua obra continuará inspirando os amantes do cinema.

Obtuário


Gente, este post é só para não deixar passar em branco a grande perda que é a morte de Robert Wise, um dos últimos grandes diretores do cinema americano.
Amanhã postarei algo digno.

11 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema (Lawrence da Arábia)

Os Sete Pilares da Sabedoria

Um dos filmes que eu sempre quis assistir era Lawrence da Arábia (David Lean / EUA / 1962). Não sei se era o título ou as imagens do filme nas chamadas da televisão. A verdade é que eu não tinha a menor idéia sobre do que tratava o filme e acho até que, no fundo, eu pensava que era apenas um filme de aventura e isso era o que me atraia.
Tentei assistir ao filme algumas vezes, mas abandonava, dormia ou coisa pior... Não era o grande e empolgante filme de aventura que eu queria ver. Tinha lá seus momentos de aventura, mas na maior parte de seus 222 minutos (isso mesmo, 222 minutos!) era uma seqüência de conversas em gabinetes e tendas: política e política, enormes planos-seqüência panorâmicos das paisagens do deserto, o modo de organização da narrativa (isso é capítulo à parte) também não ajudava, era tudo muito confuso e cansativo. Mas, eu precisava ver esse filme.
Algo deveria me preparar para ver o filme. Por que aquele era um filme importante? As vezes, eu tinha a impressão que muitas das pessoas que achavam aquele filme importante não tinha a menor idéia do se tratava, acho até que muitos o tomavam por um filme de aventura mesmo e como se conformavam com pouco, ignoravam completamente uns oitenta por cento do filme e assistiam apenas às batalhas e brigas, havia também aqueles itelectuais (ou pseudointelectuais) que mencionavam o filme apenas para parecerem mais cultos, mais distantes desse mundo terreno, onde socos são apenas socos e balas são apenas balas, sem segundas interpretações. Você pode até não acreditar, mas há gente desse tipo.
Passei a utilizar minha técnica predileta que é arrudiar (ficar em volta) aquilo que me interessa. Isso funciona muito bem com as coisas, mas é pouco eficiente com as pessoas. A técnica é a seguinte, aprender tudo o que puder sobre o seu objeto do desejo. Isso levado ao pé da letra me obrigaria a fazer um curso completo de ginecologia, mas não mudemos de assunto.
Quem foi Thomas Edward Lawrence, T. E. Lawrence ou simplesmente, o Lawrence da arábia do filme? Um sujeito complexo, para dizer o mínimo, que escreveu uma auto-biografia, Os Sete Pilares do Conhecimento. Auto-biografia é um jeito simplista de definir o tal livro. Oh livrinho difícil. É um diário, misturado com observações geniais sobre arte, arqueologia, filosofia, cultura oriental (arábe), enfim, o livro faz jus ao título.
Esse foi um dos empreendimentos que mais me dissuadiu quanto a eficiência da minha técnica de abordar meus objetos de desejo.
Depois de algum tempo e algumas pesquisas (o que significa sola de sapato, porque ainda não havia Google) passei a ficar curioso. Parecia-me uma grande empreitada fazer um filme sobre esse sujeito e tudo que ele abordava no livro: há coisas que são de uma complexidade e que atacam certos fundamentos de tudo aquilo que aprendemos e acreditamos ser correto. Por exemplo, eu acreditava que os arábes eram um povo selvagem, nunca me passara pela cabeça que os povos do deserto constituiam uma civilização, tão antiga, rica e complexa quanto a nossa e que, ela própria também não nos via com melhores olhos. Aquele homem branco e nobre inglês travestido de árabe, desesperadamente lutando para ser aceito como um igual entre os beduinos, visto com profundo despreso por eles. Tudo isso colocou os árabes noutro patamar e mudou minha visão de mundo.
O Lawrence não era só o transformista, o homem que vira bicho (sim, porque aos meus olhos, ele se tornara um selvagem do deserto), Lawrence é o político, o homem à altura da tarefa, um grande e verdadeiro intelectual, um homem de leis e de livros, mas também de ação. Lawrence negociou os tratados e acordos que puseram fim ao Império Otomano e armaram o palco para as primeira e segunda guerras mundiais. Há controvércias e um certo exagero em dizer isso, mas, mesmo que ele não tenha feito tudo sozinho, pode-se dizer que, no mínimo, Lawrence foi de suma importância na definição das fronteiras atuais do oriente médio (corre a lenda de que ele proprio traçou os mapas em seu gabinete).
Sei que muita gente pode dizer que isso significa que o tal tomou parte na fabricação de uma das maiores cicratizes abertas da política internacional do século XX e talvez do século XXI, mas quem faz esse tipo de crítica não tem idéia do ponto de partida do homem, das condições a partir das quais ele criou um modus vivendi precário é verdade, mas estável, que tem durado um século. Agora que os EUA estão in loco é que o fantasma se encarna, há tanto por ser feito que talvez a estada americana no Iraque se prolongue por mais tempo que o desejado pelos yankes em Washington.
Quando passei a admirar esse homem, passei a ama-lo e aí estava preparado para ver o filme, nada mais poderia me chatear, o longo enredo recheado de reuniões em gabinetes e tentas não seria mais im pedimento. Nem a organização cronológica confusa da narrativa no filme que começa mostrando a morte de Lawrece, para depois contar o seu porque (sei que essas coisas são comuns hoje depois de Pup Fiction e O Paciente Inglês, mas imagine essa ousadia narrativa na década de 1960), seria um impeditivo.
Por puro acaso, uma versão do diretor entrou em cartaz aqui em Belo Horizonte, no Cine Roxy, bem após eu ter concluído meu arrudeamento e eu tive a oportunidade de ver o filme no cinema.
Aqueles planos infinitos na telona. Olha, não dá para descrever, esse filme é um daqueles que justificam o cinema como uma forma de arte, é impossível traduzir apenas em palavras o que se vê, sem que se ampute algo. O elenco é magnífico Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn e Omar Sharif parecem tomados por espíritos alheios.
Minha cena predileta é aquela em que se sugere um provável abuso sexual sofrido por Lawrence após uma briga com um bando de árabes. Não vou dizer se isso aconteceu ou não de acordo com Os Sete Pilares da Sabedoria, já que o filme não é claro a esse respeito, mesmo porque agora quem assistir ao filme vai querer ler o livro e eu não quero tirar esse prazer de vocês, mas, do ponto de vista dramático, a cena é magnífica. Outra cena marcante é a da chegada de Lawrence a Suez, quando uma chaminé de navio surge por trás de uma duna, como eu disse é indescritível.
Livro e filme se sustentam por si mesmos, assim como penso eu o personagem histórico deve ter tido outra identidade jamais completamente traduzida, mas é bom ler um e ver outro para se aproximar mais desse homem sem par.
Hoje é 11 de setembro de 2005 e lembrar de Lawrence nos remete a muitas coisas de nosso passado recente.

10 de set. de 2005

Polis


Metropolis

Metropolis é um filme de estética expressionista do alemão Fritz Lang (1890-1976) que vi no Savassi Cine Clube, lá na Levindo Lopes. Cineminha pequeno, acanhado e no qual os espectadores entravam passando pela frente da tela e quando isso acontecia no meio do filme, já viu (não sei se reformaram depois que virou Unibanco), mas os pseudo intelectuais e universitários de BH adoravam o lugar e como eu sou um deles (na época era universitário, agora minha falta de modestia e cabedal acadêmico me coloca no outro grupo), lá ia eu. Foi o único filme que eu vi lá.
O enredo do filme é aquele que todos sabem: cidade futurista (século XXI), governada autocraticamente por empresário ganancioso, onde os abastados vivem num jardim suspenso idílico e os trabalhadores vivem e trabalham em catacumbas terríveis.
Tem gente que vê nisso uma crítica política à miséria da luta de classes na sociedade capitalista ou, sei lá, uma exaltação da superioridade de alguns frente aos outros, eu vejo outras coisas, muitas outras coisas (a gente já tratou disso no artigo anterior sobre filosofia política, lembram?).
O Século XXI chegou e as cidades não viraram a Metropolis de Fritz Lang. Ainda bem que a ficção não é aquilo que alguns exigem dela (porque tem gente que acha que a boa ficção é a que antecipa o futuro). Entretanto, há algum acerto antecipativo em Metropolis, mas não de uma natureza óbvia, é algo mais simbólico e, aí parabéns para o autor, afinal o filme é expressionista.
Há pouco pensava e conversava sobre isso (não sobre o filme, mas sobre os problemas de Belo Horizonte): normalmente, as pessoas percebem os problemas urbanos como sendo de trânsito e transporte, violência, falta de habitação, etc. Inegavelmente, problemas que saltam os olhos. Ninguém se pergunta pelo que está abaixo, longe dos olhos, no subterrâneo (aqueles trabalhadores do Lang). Por exemplo, fala-se que as ruas são estreitas, que a circulação é difícil, mas ninguém pensa no que acontece com a água do banho ou da privada.
Sei que essa não é uma reflexão original ou agradável, mas deve ser feita, por que a gente esquece mesmo dessas coisas, não por sermos abastados capitalistas sem escrúpulos (ainda há pessoas abastadas, mas de coração puro), mas simplesmente por que somos humanos e não pensamos nos problemas que não vemos (digamos que isso é uma limitação sensorial). Apenas imaginem, se as ruas estão congestionadas e a gente se preocupa com elas o tempo todo, abaixo delas, naquele espaço sobre o qual não costumamos pensar...
Por que Metropolis foi destruída?

Nem Morto Mesmo

Nota aos leitores
Quero fazer um esclarecimento e uma confissão aos meus leitores .
Estou achando esse blog um pouco confuso por causa dos títulos dos post. Bom, agora o esclarecimento. No primeiro título, vem expresso o que estou chamando de coluna ou série, que uma espécie de separação dos post por tema (acompanha-se também uma chamada entre parênteses, como no caso do post anterior, que indica uma série dentro da série, o que quer dizer que vocês me verão mais vezes tratando do assunto), e no corpo do post propriamente há um título que é o título do artigo.
Esclarecimento feito, boa leitura.

9 de set. de 2005

A televisão me deixou burro de mais (Hanna-Barbera 1)

Hanna-Barbera e Minha Educação Sentimental

Sou da geração babá eletrônica, fui criado pela televisão, pelo Bozo, pela Xuxa e algumas coisas muito boas como o Sítio do Pica-pau Amarelo do Geraldo Casé. Agora o que alguém como eu não pode deixar de mencionar é a Hanna-Barbera. Pôxa vida! Não dá para esquecer o Zé Colmeia (Yogi Bear dos gringos) e o Catatau, o Pepe Legal (Quick Draw McGraw) e sua turma: El Kabong e Babalu, "E não se esqueça disso...", não esqueci mesmo, Chuvisco, Plic e Ploc, Tutubarão, Dynamite, o Bionicão e o Falcão Azul. Não dá nem para falar, a lista é enorme, ficava aqui umas duas horas.

Era tudo muito bom. Quando os personagens corriam ou passevam de carro, passeavam repetidas vezes pelo mesmo lugar (o cenário era o mesmo e ficava se repetindo), pior do que isso, só aqueles filmes das décadas de 50, 60 e 70 que quando os caras estavam no carro ou no trem era sobreposta uma imagem em movimento na janela do carro ou do trem. Da onde tiravam essas idéias e pensavam realmente que alguém era enganado por esses truques? Os cenários dos Flintstones eram pintados com giz de cêra, desses que a gente usa no jardim de infância e no encerramento, quando o Fred voltava para a cama e passava pela Wilma deitada (em camas separadas!), ela não tinha boca, os caras esqueceram de desenhar o boca dela (não leiam em voz alta que é cacofonia), custava trocar um celulóide. Foram não sei quantos zilhões de epsódios e os caras não corrigiram o erro por pura pão-duragem.
À medida em que fui crescendo, meu gosto foi mudando (ainda bem!) no começo eram as correrias do Chuvisco, Plic e Ploc, do Wally Gator, do Pepe Legal, Os Apuros de Penélope (tem muita menina que se chama Penélope por causa dela, sabia?)... Chega! É muita gente para citar.
Quando me dei conta, já gostava de aventura e tinha o Jonny Quest. Já repararam que nos epsódios das temporadas clássicas (as primeiras) do Jonny Quest não tem menina e elas não fazem a menor falta? Os meninos que assistiam também tinham 10, 11 ou 12 anos e para eles: meninas são argh!!! Esse Jonny queria ser modernoso, um jatinho cheio de manha e tudo mais high tech. E o computador do Dr. Banton? Os caras não tinham a menor idéia de que computador era esse barato que nós temos hoje. Era modernoso mais padecia do mesmo mal dos outros: alguns movimentos dos personagens foram reaproveitados até encher o saco, pegavam a mesma cara do sujeito e redesenhavam a boca e os olhos cem mil vezes diferentes, só para não desperdiçar o rosto e o tronco, as roupas também, principalmente as roupas... O Dr. Benton Quest usava um jaleco branco (guarda-pó de mineiros) que nunca foi lavado, assim como as roupas dos outros personagens, só de vez em quando o Jonny aparecia usando um short ou o Roger Race Bannon trocava de roupa e punha um kimono para lutar judô. Esses caras eram uns porcos.
Quando eu já devia estar abandonando os desenhos, pois o precoce desenvolvimento das glândulas mamarias das meninas da escola começava a ofuscar as cores da televisão, aí foi a vez das tramas adultas, dos desenhos família: Flintistones e Jetsons. Que ideiazinha cretina, uma família do futuro e outra do passado. Eh criatividade!

Além da falta de higiene pessoal (as roupas sujas, no caso dos Flintistones eram peles de animais. Devia feder...), das tranqueiras domésticas modernosas e dos defeitos especiais que eram comuns a toda a família Hanna-Barbera, desta vez as tramas eram diferentes. Nada de corre-corre e kabongadas na cabeça ou aventuras e cientistas malucos. Os Flintistones e os Jetsons tratavam de moral, não era nada como os desenhos do He-Man que quanto terminava vinha a lição de moral do dia. Não, os Flintistones contavam uma história, nos divertiam e sem saber a gente acabava virando gente. Gente cheia de defeitos como o Fred (egoísta....), mas de bom coração. Lembro-me de um epsódio em que Barney salva um bebê de um acidente (o clássico carrinho desgovernado descendo ladeira abaixo) e precisa se ausentar para recuperar o balão da criança. Fred, que fica tomando conta do pimpolho, não titubeia quando vê a imprensa, torna-se o herói. Em meio a fama e o prestígio, passa a se mortificar por dentro diante da humildade de Barney (um amigo de verdade) e acaba confessando tudo.
Amizadade, respeito, honestidade, companherismo e um sem número de outros valores eu aprendi com os Flintistones. O único problema é que o Fred não se emendava, no epsódio seguinte, lá ia ele de novo... Como nós, igualzinho a eu e você...
Essa Hanna-Barbera!!!!!
E eu ainda não falei dos cachorros falantes.

Cogito Ergo Sum (O cão e seu próprio rabo ou a dialética da interpretação)


A Metamorfose do Narciso - 1937
Salvador Dali
Uma nova visita ao velho Marx
Há alguns clichês que são inescapáveis, como o da mocinha que ao fugir do vilão tropeça e cai da escada.

Marx é um autor que a cada leitura se mostra transmutado e sempre atual, esses são clichês dos quais não se pode escapar, mas que normalmente são ignorados não por uma mal intencionada interpretação, mas pelos bem intencionados oficiais interpretes da canônica obra.

Há sempre de prontidão uma interpretação que advoga a identidade de razão e como interpretação oficial se anuncia na tese "Marx queria dizer isso ao escrever isso..." Mas, não se sustenta na medida em que não é imediatamente aparente a intenção do agente autor ou esta só pode ser reconstruída a custa de aproximações sempre precárias na falta de um objeto de comparação analítica. De outra forma a identidade de razão nega outras interpretações possíveis e necessárias que, ainda que padeçam da falta de um objeto de comparação analítica e até por isso mesmo, se mostram verdadeiras e legitimas porque são frutos da contraposição de um leitor agente a um autor agente.

A interpretação oficial e sua identidade de razão historicamente se puseram a serviço da agência política pronta a não assumir a responsabilidade por conseqüências imprevistas ou indesejadas de seus atos, refugiando-se genericamente no erro interpretativo ou na vilania dos interesses que maculam o sacro santo altar da doutrina. Assim, ao negar a responsabilidade, nega-se a política e criam-se as bases para a transformação do político no fanático doutrinador à espera da redenção histórica. De outro lado, o lado dos inimigos da fé, há a disposição daqueles que aceitam o desafio da história como fazer diário, sem se apegar á doutrina da identidade da razão, mas fazendo da interpretação um novo diante do novo, que exige do agente político total compromisso com todas as decorrências e intercorrências do fazer político.

Um ou dois exemplos aclaram melhor o que se tem a dizer.

Recentemente tive que reler O Manifesto do Partido Comunista para preparar uma aula para meus alunos, digo isso para deixar claro que faço nova visita ao texto e havia em minha leitura um fim e assim já anuncio que não sou nem pretendo ser interprete isento.

À luz dos atuais acontecimentos da política brasileira não é possível ignorar algumas passagens do Manifesto. Logo de início, no que interpreto como sendo uma declaração de intenções, Marx afirma que um espectro paira sobre a Europa, o espectro do comunismo e que comunista é a pecha correntemente empregada para desqualificar o outro, desqualificando-o antes mesmo do embate e que é preciso opor a esse espectro um manifesto que traga às claras os verdadeiros comunistas, seu programa e suas intenções.

Também paira atualmente sobre o Brasil um espectro, o espectro da direita, do neoliberalismo e d'a zelite que como em 1848, também agora é a pecha que desqualifica o outro, que o anula antes do embate. É claro que é preciso opor a esse espectro um manifesto para que se traga ao dia os verdadeiros direitistas neoliberais, seu programa e suas intenções, até agora só apresentados por seus opositores, que paradoxalmente têm se apresentado como seus porta-vozes.

Há que se opor um manifesto que ponha a nu a farsa da transmutação que operada pela identidade da razão coloca os interpretes oficiais da doutrina na condição de não terem que apresentar em seu manifesto um programa real, mas apenas um grito de exposição da simetria social supostamente construída a partir dos obstáculos e da sanha flagelada da direita a serviço de interesses vis e alienígenas. Sendo essa a mágica que desvia os olhares das entrelinhas de seu manifesto onde insidiosa e dissimuladamente se esconde o programa de perpetuação do poder e colapso da democracia.

Farsa porque bradam: democracia, democracia! Mas desconhecem o significado da palavra, o compreendem a partir da identidade de razão, uma vez que pairam sobre a história sem compromissos com suas ações e a espera da redenção.

Como havia prometido dois exemplos, o segundo se avia. Marx também faz menção à sua grande teoria da história, teoria errada porque é inegável e monista ao anuncia tudo para não se comprometer com nada, que diz ser ela a história das lutas de classes, que a cada etapa se manifesta como o confronto entre duas classes específicas, culminando com a revolucionária transformação da sociedade ou com a extinção das classes em conflito.

O resto do manifesto é um desfile de argumentos que corroborariam a tese de que a moderna sociedade burguesa onde se digladiam burgueses e proletários se desmanchará na apoteose do proletariado, sabe Deus por quem escolhido para guiar a humanidade nessa nova travessia do Mar Vermelho. É aqui que o analista da história intencionalmente sai de cena para dar lugar ao profeta de que falávamos quanto mencionamos o fanático doutrinador e esse profeta nos toma por ignorantes ao supor que mudada identidade ou trocada a roupa nos esqueceremos facilmente do que acabara de ser dito poucas linhas antes. Não, nós não esquecemos. Há opções, a história não é uma desvairada corrida em circuito pré-estabelecido, há a extinção das classes em conflito e as evidências saltam dos últimos cento e cinqüenta anos de história que se passaram desde o manifesto. Mas o profeta não se preocupa com evidências, ele apenas chama para si a capacidade de demolir a ordem para em seguida reconstruí-la pela autoridade da palavra.

Com efeito, tudo isso é ignorado pela doutrina oficial, pelos interpretes da identidade de razão. E isso não é um traço da autodenominada esquerda nacional, uma espécie de jabuticaba ideológica a denotar os defeitos de nossa pobreza ou atraso intelectual. Isso frutificou alhures tanto quanto aqui, ontem e hoje.

O que nos distingue é que agora refazemos o caminho já percorrido por outros, lembram-se da releitura? E esse caminho que não é novo e esses pés que se negam a assumir responsabilidades pelo amargo e pelo triste do destino a ser alcançado são picadeiro de circo e pés de palhaço que ao ficarem com o profeta, esquecem o analista que disse que a história só se repete como farsa e pantomima. E de nossa farsa e pantomima não nasceu riso na platéia, por demais dramática e trágica, desconcertante para o mestre de picadeiro que se perdeu no anúncio do programa e pôs o rei nu na frente de todos, não como o Lear altivo na tempestade, mas como o bufão que é, o bobo que enganou a todos, mas que ficou sem repertório e agora torce para que se abrevie o espetáculo e a cortina desça conservando o que ainda lhe resta de dignidade.

6 de set. de 2005

A televisão me deixou burro de mais (Banho de Língua)

Já contei para vocês que eu pensava que os atores gringos aprendiam português para fazer os filmes que passavam aqui no Brasil. Sei que isso é meio estúpito, mas pensa bem, o sujeito liga a televisão e os caras tão falando tudo certinho.
Comecei a desconfiar das coisas assistindo às aventuras do meu herói favorito - naquela época, que fique bem claro -, o Spectreman. Um herói japa, estilo Power Rangers - só para lembrar aos mais novinhos que vocês não são menos ridículos. O Spectreman era barra, tinha tudo que um bom japa tem, abertura maneira: a câmera vinha pairando desde o espaço, em direção ao Japão, enquanto um locutor com uma voz cavernosa falava em off ao som de uma musiquinha (clique a seguir ouvir a musiquinha e ver a abertura ): Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como todas grandes metrópoles do planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? SPECTREMAN!!!; um vilão carismático, o Dr. Gori, um macacão que ficava arquitetando planos adivinhem para que.... dominar o mundo, isso mesmo. E o cara tinha um assistente atrapalhado, quem não tem um, o Karas, um gorila muito louco que ficava o tempo todo batendo no peito com os punhos cerrados; tinha também um grito de guerra: "Dominantes, às ordens", aí um raio transformava o pacato Kenji no poderoso Spectreman e os monstros começavam a tremer nas bases. Os enredos eram sempre os mesmos: O Dr. Gori enviava um monstro de latéx com ziper nas costas para a Terra, o Spectroman lutava e ganhava do monstro, mas não o destruia, então o Dr. Gori transformava o monstro num gigante - não me perguntem porque ele não mandava o monstro gigante desde o começo -, o Spectreman também virava gigante - também não me pergunte porque o Spectreman não vinha gigante desde o começo - e usava seu famoso spectreflash para acabar com o monstro, claro antes eles destruiam uma porrada de coisas durante as lutas.
Não esqueci não... O problema é que eu já sabia que no Japão, os caras falam japonês e o Dr. Gori - principalmente ele - tinha uns tiques muito esquisitos: o sujeito falava com o Karas e ao mesmo tempo mexia os braços feito o Renato Russo dançando e não tinha uma vez que ele não ficasse mexendo a boca sem emitir qualquer som ou o contrário, a gente ouvia a voz do cara, mas a boca ficava paradinha.
Esse comportamento por demais sinistro foi a chave para tudo. Olha o trabalhão que os safados da televisão tinham. Eles apagavam o som das vozes dos caras dos filmes, depois gravavam versões em português do diálogo e aí punham para passar tudo junto. Tudo isso para enganar as criancinhas e a única pista da safadeza era um locutor que falava antes de começar os epsódios: "Versão brasileira...." Putz, isso é ou não é mal caratismo?
Agora depois que você descobre isso, não pense que as coisas melhoram não. Agente passa a assistir filme legendado e aí é pior ainda, a gente descobre que todo mundo fala inglês. Americano fala inglês, italiano fala inglês, japonês fala iglês, até marciano fala inglês... Tem uns caras menos cara-de-pau, como os caras da enterprise, que dizem utilizar um dispositivo de tradução universal, mas eta dispositivo né. É um banho de língua.

GOOOL

GRANDES DILEMAS DA HUMANIDADE
e do parreira também
As vezes nos pegamos pensando coisas desvairadas. É essas loucuras de dá dó. O mundo cheio de problemas: é fome e doença na África, terrorismo nos Estados Unidos - tem também o furacão Katrina que arrasou New Orleans e adjacências -, falta de emprego para todo o lado, corrupção no governo, racismo, violência urbana, maselas da educação pública, putz... chegaaaaaa.
Gente, tudo isso acontecendo e a pátria de chuteiras debatendo ardorosamente a formação da
Seleção Canarinho. Esse pessoal não tem vergonha na cara não?
É muita cara de pau, falta do que fazer. Gente, o Marcos Valério fez miséria e ninguém prendeu o cara ainda, ele anda rindo e danto entrevistas...
Tá tudo errado. É claro que o Parreira deve escalar o quinteto. Só o Parreira mesmo, um notório retranqueiro para ficar pensando se escala quatro ou cinco.
De mais a mais, a gente não tem que pensar nisso não, já que isso não é problema nosso. A FIFA deveria mudar as regras: por que a gente não pode jogar com 12?

5 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema (O Pecado Mora ao Lado)

O PECADO MORA AO LADO

Houve um tempo em que era possível ir ao cinema e se divertir com insinuações. Não estou querendo ser saudosista, nem se quer vivi esse tempo ou fui ao cinema nesta época, mas a Sessção da Tarde era ótima. A ingenuidade imperava, a gente tinha que imaginar ou simplesmente perdia o enredo. A gente nem sabia que o filme era dublado... Juro, eu achava, achei durante muito tempo que o Jerry Lewis falava português. Ficava impressionado com a capacidade desses atores americanos em aprender nossa língua pátria. E olha que eu já tinha uns dez anos.

Uma vez eu ri tanto assistindo a um filme do Sr. Lewis que até engoli uma bolinha de gude. Engoli é modo de dizer, eu fiquei engasgado durante uns cinco minutos que pareceram uma eternidade, até que depois de alguns goles d'água e uns punhados de farinha de mandioca a bolinha desceu e essa foi a última notícia que eu tive dela, esteja ela onde estiver. Tinha que guardar as bolinhas na boca, se não os outros moleques as roubavam.
Mas essa ignóbil violência urbana e falta de segurança pública era amplamente compensada pelas gargalhadas inocentes em frente à TV. TV do vizinho, quase me esqueci.
Um dos filmes mais emocionantes e divertidos que assisti lá na casa do Pelega - Pelega era o apelido do sujeito que morava em frente lá de casa e que um dia caiu de cima da castanheira com o cotuvelo dentro da lata de nescau ou era leite ninho, não importa. Mas, isso já é outra história - voltando ao assunto, foi O Pecado Mora ao Lado ou The Seven Year Itch (1955 - Billy Wilder), como é conhecido pelos americanos.

O melhor de tudo foi a preparação para ver o filme, todo mundo já tinha visto a cena da Marilyn no respiro do metrô, inclusive fazia parte da chamada do filme, claro. Mas, a gente achava que faltava alguma coisa, corria um boato de que a cena havia sido cortada e que na exibição do filme passariam na integra, ou seja, tudinho... Foi quase uma semana de expectativa por esse tudinho.
O filme, agora eu sei, é genial. Na época eu só queria ver tudinho. Marilyn Monroe, como The Girl - só isso, A Garota, a personagem não tinha nem nome - está no auge de sua forma, tanto física quanto artística, sua loira gostosona e ingênua é uma pérola, verdadeira mulher fatal, daquelas que a gente não sabe se está fingindo não saber ou se é burra mesmo, mas em qualquer dos dois casos é encantadora, um verdadeiro anjo.
Não entrava na minha cabeça as loucuras do jeito americano de ser. A Sra. Sherman, a ótima Evelyn Keyes, todos os verões abandonava seu marido e viajava com o filho para o norte, fugindo do calor de Manhatan para alguma cidade mais fresca da Nova Inglaterra. Na ocasião retratada no filme, o Sr. Sherman é abandonado ao lado de sua vizinha, o pecado do título brasileiro, e acontece uma série de situações "constransgedoras" para ele, um homem fiel e cumpridor dos seus deveres às voltas com um monumento entrando e saindo do seu apartamente a toda hora.

O único paralelo cultural que eu tinha como referência para esse estranho hábito da Sra. Sherman eram minhas aulas de história do colégio, quando a professora contou que a família real viajava para Petrópolis para se refugiar do verão carioca. Mas em Manhatan, até onde eu sabia, nem era tão calor assim, além do mais, dado o exemplo da família real, eu achava que isso é coisa de rico e no filme o povão todo era dado a essa estravagância, como ficava claro na cena em que o Sr. Sherman se despede da família em meio a uma multidão que toma toda toda a estação de trem para fazer a mesma coisa... Nova Iorque inteira viajava, era uma loucura só ficavam os homens trabalhando para pagar a viagem e, por motivos que me escaparam à época e continuo sem saber, The Girl.

Tinha também um lance psicanalítico com o Sr. Sherman - vivido pelo ator Tom Ewell, desculpe não ter creditado antes -, o cara era assombrado, tinha uma espécie de múltiplas personalidades, uns egos malucos. O sujeito se via maquinando formas de pegar a Marilyn e longo em seguida caia na real e se supliciava por ter se deixado levar pela imaginação doentia, tinhas visões com a mulher e o filho em situações absolutamente comportadas, sentia-se fascinado pela Garota, mas ao mesmo tempo incapaz de consumar seus intentos sem atentar contra a própria consciência, um verdadeiro Fausto. Eu o achei um cara muito esquisito, mas eu ainda não conhecia as mulheres como penso conhecer hoje.

Bom, mas tem o tudinho... do qual falei antes. Como eu disse no início, minha ingenuidade tornava tudo diferente, tinha uma espécie de véu diante de meus olhos que tornava o céu mais azul. Eu esperei ansiosamente pela cena do vento na saia, tinha certeza que tinha algo mais, estava exitadíssimo, finalmente veria o algo mais, o que não se mostrara nas chamadas, aquilo que só os pacientes, os perseverantes, os.. os... A cena é exatamente igual à chamada: tremenda decepção.
Depois de alguns anos vi A Dama de Vermelho - The Woman in Red de Gene Wilder, 1984 que tem a música do Steve Wonder, I just call to say I love you - esse sim título igual ao dos americanos - com a Kelly LeBrock - A mulher nota 1000, lembra? -, onde a morena repete a cena da Marilyn, só que dessa vez mostra tudinho, quer dizer tudinho, tudinho mesmo, ela só mostra quase no final do filme. O fato é que eu já tava mais crescidinho e só então pude perceber que sou meio bobo. Eu gostei mais do tudinho da Marilyn, um anjo!

4 de set. de 2005

Culto e Cult


Amar é....
Esta semana em O Globo foi publicada uma materia em que a autora faz uma bem humorada crí­tica a famosa série de cromos Amar é... que está de volta.
Isso mesmo, os bonequinhos pelados estão nas bancas novamente, mas, sinal dos tempos, nem tudo é mais como era antigamente, como diria o roqueiro.
Amar é... virou alvo de crí­ticas feministas. Sim, as feministas estão protas para apontar para chovinismo do casalsinho de pelados.
Amar é... compartilhar os sonhos: no cromo ele sonha com um carrão e ela em ser bailarina e, a crí­tica não perdoa: porque (nós mulheres) temos que ser tão unidimencionais?
E nós homens....?

Tá legal, a série tinha coisas um pouco exageradas. É claro que eu nunca gostei daquelas bobagens que eram escritas nos cartõesinhos... A não ser quando elas rediam uns beijinhos - olha o machismo aí -, mas as pessoas estão passando dos limites com essa história de "polititcamente correto".

O que seria do mundo sem os esterióticos, não dá para fazer comédia sem esteriótipos. Claro que não estamos falando de espancar anões no horário nobre. Não, não se trada disso... Trata-se de tornar nossas vidas um pouco menos cotidianas. Nosso dia-a-dia é isso mesmo: monótono. Uma vez recebi de uma namorada uma bala, daquelas mentoladas, em cujo o envelope - do qual ela tinha conhecimento - estava escrito, parafraseando Vinícius: "Nosso amor é como (...) Que seja eterno enquanto DURO. Isso é inesperado, rompe com o cotidiano e é agradável, evidentimente é muito chulo se comparado com o Amar é...

As mesmas pessoas que sobem nas tamancas para chamar de machista o Amar é... vão à parada do orgulho gay pedir igualdade de tratamento para os homosexuais. Será que essas pessoas não vêm nada de incoerente nisso?

O problema com o Amar é... não é o seu suposto machismo. O problema é que o mundo mudou desde os anos 70 e hoje, publicar Amar é... é como ressucitar algo fora do tempo e da ordem.

Hoje, o homem cozinha e Amar é... fazer uma comidinha gostosa para sua amada; sentar no banco do carona, enquanto ela dirige; ter conta conjunta com o nome dela na frente; ficar com raiva quando ela, para não decidir, diz que vai consultar o marido....

3 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema (Gaijin - Ama-me como eu sou)

A estética Soap Opera tomou de assalto o cinema brasileiro. A teledramaturgia global pariu seu novo rebento. Depois de Olga -

Camila Morgado é a única coisa ótima - é a vez de Gaijin, com um orçamento de dez milhões de reais, um luxo para os padrões das produções brasileiras, levar as tramas folhetinescas para a grande tela.

Enquanto isso Waltinho e Meireles filmam em inglês. Se continuar assim, daqui a pouco só vamos ver cinema nacional produzido em Hollywood.

Cantinho da Música

Nestes tempos bicudos, com as rádios finadas. Só evangêlicas... O bom e velho rock'n roll pode ser ouvido na VIRGIN RADIO. A Virgin é uma rádio de Londres que só toca o melhor do Rock, em sua versão classic é a grande pedida das webradio.

Nem morto mesmo

Este é o ato inaugural do blog. Então viva nem morto mesmo!