15 de set. de 2005

No Escurinho do Cinema Especial (Indo onde nenhum homem jamais esteve)

A industria cinematográfica americana é um celeiro. Há constante renovação, o que não significa que não haja o reconhecimento também constante por aqueles que ajudaram a construir a indústria e que hoje fazem parte da história dela. Isso certamente dimenciona a comoção causada pela perda de Robert Wise.
O que é digno de Robert Wise? Estou navegando na rede, entrei para postar uns e-mails e me deparo com a notícia da morte de Robert Wise, invariavelmente acompanhada de seu complemento mais repetitivo, diretor de A Noviça Rebelde. O que, apesar de ser muito, não é tudo.
Tenho que confessar que não era muito chegado a musicais e que não gostei da primeira vez que vi A Noviça Rebelde. Chamava esses filmes de filme de cantoria e não entedia porque era necessário acrescentar a música à narrativa. Wise foi uma das pessoas que contribui de forma decisiva para mudar minha mentalidade. Vendo os filmes de Wise aprendi a reconher a música como elemento dramático.
Mas não foi só a música que foi transformadas pelas mãos de Wise. Quando eu descobri que ele fora o diretor de Jornada nas Estrelas - O Filme, fiquei pasmo, atônito, nessa época ainda não me preocupava em ler os créditos dos filmes, ia ao cinema pela diversão, não que ler os créditos não é divertido, mas naquela época, os fins dos anos 70 não era. Então, também foi Wise, com sua versatilidade, que tornou os crédidos importantes.
West Side History ou Amor Sublime Amor, pôxa parece arrogância barata, mas eu nunca lembro o título deste filme em português. Lembrei agora porque está escrito em tudo quanto é site, mas daqui a alguns dias só lembrarei de West Side History que é a versão Wise para Romeu e Julieta na New York dos anos 50. Preciso lembra-los que também não gostava de Shakespeare?
O Dia Em Que a Terra Parou. Esse título não foi tirado da música do Raul não. Foi o contrário, uma vez que o título em inglês é The Day The Earth Stood Still. Simplesmente, clássico. Esse eu assisti depois que já gostava de ficção científica.
Robert Wise era um artista, mas não do tipo excêntrico, do tipo performático, não. Wise dominava os elementos de sua arte e os mesclava com rara maestria. A música, a fotografia, a montagem (ou edição, como dizem os modernos), o roteiro, enfim tudo era medido e pesado, harmonizado em suas proporções muito de coisas díspares. Como na centa em que ele dá uma aula de suspense através de elementos infantis e ingênuos, como aquela menina que olha estarrecida os acontecimentos do parque em O Dia Em Que a Terra Parou. Há um pânico, terror mesmo e a espinha do espectador é um carrocel de emoções, porém Wise insiste em manter nos olhos inocentes da garotinha.
Demolidor de mitos e consolidador de dinastias, Wise recuperou com A Noviça Rebelde, a Fox Film da catástrofe chamada Cleópatra e reacendeu a chama do mais fértil da tv americana com o seu Star Trek - The Movie. Foi o cuidado e o carinho de Wise como os detalhes mínimos que fizeram de Julie Andrews e sua simplicidade algo mais que suntuosidade e glamour de Liz Talor e ele colocou também todos os elementos clássicos em sua Enterprise: o capitão impetuoso, o frio Spoc, o encrenqueiro Dr. McCoy, todos lá abrindo caminhos para novas jornadas...
Agora Wise ruma para onde nenhum homem jamais esteve.
Vá Wise, sua obra continuará inspirando os amantes do cinema.

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