O PECADO MORA AO LADOHouve um tempo em que era possível ir ao cinema e se divertir com insinuações. Não estou querendo ser saudosista, nem se quer vivi esse tempo ou fui ao cinema nesta época, mas a Sessção da Tarde era ótima. A ingenuidade imperava, a gente tinha que imaginar ou simplesmente perdia o enredo. A gente nem sabia que o filme era dublado... Juro, eu achava, achei durante muito tempo que o Jerry Lewis falava português. Ficava impressionado com a capacidade desses atores americanos em aprender nossa língua pátria. E olha que eu já tinha uns dez anos.
Uma vez eu ri tanto assistindo a um filme do Sr. Lewis que até engoli uma bolinha de gude. Engoli é modo de dizer, eu fiquei engasgado durante uns cinco minutos que pareceram uma eternidade, até que depois de alguns goles d'água e uns punhados de farinha de mandioca a bolinha desceu e essa foi a última notícia que eu tive dela, esteja ela onde estiver. Tinha que guardar as bolinhas na boca, se não os outros moleques as roubavam.
Mas essa ignóbil violência urbana e falta de segurança pública era amplamente compensada pelas gargalhadas inocentes em frente à TV. TV do vizinho, quase me esqueci.
Um dos filmes mais emocionantes e divertidos que assisti lá na casa do Pelega - Pelega era o apelido do sujeito que morava em frente lá de casa e que um dia caiu de cima da castanheira com o cotuvelo dentro da lata de nescau ou era leite ninho, não importa. Mas, isso já é outra história - voltando ao assunto, foi O Pecado Mora ao Lado ou The Seven Year Itch (1955 - Billy Wilder), como é conhecido pelos americanos.
O melhor de tudo foi a preparação para ver o filme, todo mundo já tinha visto a cena da Marilyn no respiro do metrô, inclusive fazia parte da chamada do filme, claro. Mas, a gente achava que faltava alguma coisa, corria um boato de que a cena havia sido cortada e que na exibição do filme passariam na integra, ou seja, tudinho... Foi quase uma semana de expectativa por esse tudinho.
O filme, agora eu sei, é genial. Na época eu só queria ver tudinho. Marilyn Monroe, como The Girl - só isso, A Garota, a personagem não tinha nem nome - está no auge de sua forma, tanto física quanto artística, sua loira gostosona e ingênua é uma pérola, verdadeira mulher fatal, daquelas que a gente não sabe se está fingindo não saber ou se é burra mesmo, mas em qualquer dos dois casos é encantadora, um verdadeiro anjo.
Não entrava na minha cabeça as loucuras do jeito americano de ser. A Sra. Sherman, a ótima Evelyn Keyes, todos os verões abandonava seu marido e viajava com o filho para o norte, fugindo do calor de Manhatan para alguma cidade mais fresca da Nova Inglaterra. Na ocasião retratada no filme, o Sr. Sherman é abandonado ao lado de sua vizinha, o pecado do título brasileiro, e acontece uma série de situações "constransgedoras" para ele, um homem fiel e cumpridor dos seus deveres às voltas com um monumento entrando e saindo do seu apartamente a toda hora.
O único paralelo cultural que eu tinha como referência para esse estranho hábito da Sra. Sherman eram minhas aulas de história do colégio, quando a professora contou que a família real viajava para Petrópolis para se refugiar do verão carioca. Mas em Manhatan, até onde eu sabia, nem era tão calor assim, além do mais, dado o exemplo da família real, eu achava que isso é coisa de rico e no filme o povão todo era dado a essa estravagância, como ficava claro na cena em que o Sr. Sherman se despede da família em meio a uma multidão que toma toda toda a estação de trem para fazer a mesma coisa... Nova Iorque inteira viajava, era uma loucura só ficavam os homens trabalhando para pagar a viagem e, por motivos que me escaparam à época e continuo sem saber, The Girl.
O único paralelo cultural que eu tinha como referência para esse estranho hábito da Sra. Sherman eram minhas aulas de história do colégio, quando a professora contou que a família real viajava para Petrópolis para se refugiar do verão carioca. Mas em Manhatan, até onde eu sabia, nem era tão calor assim, além do mais, dado o exemplo da família real, eu achava que isso é coisa de rico e no filme o povão todo era dado a essa estravagância, como ficava claro na cena em que o Sr. Sherman se despede da família em meio a uma multidão que toma toda toda a estação de trem para fazer a mesma coisa... Nova Iorque inteira viajava, era uma loucura só ficavam os homens trabalhando para pagar a viagem e, por motivos que me escaparam à época e continuo sem saber, The Girl.
Tinha também um lance psicanalítico com o Sr. Sherman - vivido pelo ator Tom Ewell, desculpe não ter creditado antes -, o cara era assombrado, tinha uma espécie de múltiplas personalidades, uns egos malucos. O sujeito se via maquinando formas de pegar a Marilyn e longo em seguida caia na real e se supliciava por ter se deixado levar pela imaginação doentia, tinhas visões com a mulher e o filho em situações absolutamente comportadas, sentia-se fascinado pela Garota, mas ao mesmo tempo incapaz de consumar seus intentos sem atentar contra a própria consciência, um verdadeiro Fausto. Eu o achei um cara muito esquisito, mas eu ainda não conhecia as mulheres como penso conhecer hoje.
Bom, mas tem o tudinho... do qual falei antes. Como eu disse no início, minha ingenuidade tornava tudo diferente, tinha uma espécie de véu diante de meus olhos que tornava o céu mais azul. Eu esperei ansiosamente pela cena do vento na saia, tinha certeza que tinha algo mais, estava exitadíssimo, finalmente veria o algo mais, o que não se mostrara nas chamadas, aquilo que só os pacientes, os perseverantes, os.. os... A cena é exatamente igual à chamada: tremenda decepção.Depois de alguns anos vi A Dama de Vermelho - The Woman in Red de Gene Wilder, 1984 que tem a música do Steve Wonder, I just call to say I love you - esse sim título igual ao dos americanos - com a Kelly LeBrock - A mulher nota 1000, lembra? -, onde a morena repete a cena da Marilyn, só que dessa vez mostra tudinho, quer dizer tudinho, tudinho mesmo, ela só mostra quase no final do filme. O fato é que eu já tava mais crescidinho e só então pude perceber que sou meio bobo. Eu gostei mais do tudinho da Marilyn, um anjo!
Um comentário:
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