10 de set. de 2005

Polis


Metropolis

Metropolis é um filme de estética expressionista do alemão Fritz Lang (1890-1976) que vi no Savassi Cine Clube, lá na Levindo Lopes. Cineminha pequeno, acanhado e no qual os espectadores entravam passando pela frente da tela e quando isso acontecia no meio do filme, já viu (não sei se reformaram depois que virou Unibanco), mas os pseudo intelectuais e universitários de BH adoravam o lugar e como eu sou um deles (na época era universitário, agora minha falta de modestia e cabedal acadêmico me coloca no outro grupo), lá ia eu. Foi o único filme que eu vi lá.
O enredo do filme é aquele que todos sabem: cidade futurista (século XXI), governada autocraticamente por empresário ganancioso, onde os abastados vivem num jardim suspenso idílico e os trabalhadores vivem e trabalham em catacumbas terríveis.
Tem gente que vê nisso uma crítica política à miséria da luta de classes na sociedade capitalista ou, sei lá, uma exaltação da superioridade de alguns frente aos outros, eu vejo outras coisas, muitas outras coisas (a gente já tratou disso no artigo anterior sobre filosofia política, lembram?).
O Século XXI chegou e as cidades não viraram a Metropolis de Fritz Lang. Ainda bem que a ficção não é aquilo que alguns exigem dela (porque tem gente que acha que a boa ficção é a que antecipa o futuro). Entretanto, há algum acerto antecipativo em Metropolis, mas não de uma natureza óbvia, é algo mais simbólico e, aí parabéns para o autor, afinal o filme é expressionista.
Há pouco pensava e conversava sobre isso (não sobre o filme, mas sobre os problemas de Belo Horizonte): normalmente, as pessoas percebem os problemas urbanos como sendo de trânsito e transporte, violência, falta de habitação, etc. Inegavelmente, problemas que saltam os olhos. Ninguém se pergunta pelo que está abaixo, longe dos olhos, no subterrâneo (aqueles trabalhadores do Lang). Por exemplo, fala-se que as ruas são estreitas, que a circulação é difícil, mas ninguém pensa no que acontece com a água do banho ou da privada.
Sei que essa não é uma reflexão original ou agradável, mas deve ser feita, por que a gente esquece mesmo dessas coisas, não por sermos abastados capitalistas sem escrúpulos (ainda há pessoas abastadas, mas de coração puro), mas simplesmente por que somos humanos e não pensamos nos problemas que não vemos (digamos que isso é uma limitação sensorial). Apenas imaginem, se as ruas estão congestionadas e a gente se preocupa com elas o tempo todo, abaixo delas, naquele espaço sobre o qual não costumamos pensar...
Por que Metropolis foi destruída?

2 comentários:

Anônimo disse...

realemnte não nos preocupamos com esses problemas; eu sou uma... mas vou passar a me preocupar...

Anônimo disse...

Não precisa se preocupar, pois de tempo em tempos a natureza envia lembretes. Aqui em BH os episódios ou das enchentes da Vilarinho e Prudente de Morais aconteceram por negligência em relação a esse subsolo. O problema é que as ações corretivas são sempre reativas e não proativas, o resultado é mais gente morta e desabrigada. Águas (que não são só de março) estão voltando...